Yuri Cortez, fotógrafo da AFP derrubado pelos croatas, fala sobre o "grande momento"

Na quarta-feira, milhões de pessoas assistiram o momento em que o fotógrafo da AFP Yuri Cortez foi soterrado pelos jogadores da Croácia na comemoração do segundo gol da equipe na vitória de 2-1 sobre a Inglaterra nas semifinais da Copa do Mundo.

No período de 40 segundos, o atacante Mario Mandzukic fez o gol na prorrogação e correu para a linha de fundo, onde estavam Cortez e outros fotógrafos.
 


 

"De repente eram quatro ou cinco na minha frente e eu estava na cadeira fazendo as fotos. E começaram a chegar mais jogadores, incluindo os do banco, que pressionaram e aconteceu esta espécie de avalanche. Fui jogado para trás com tudo, a cadeira e eles por cima", relata Cortez.

A situação não impediu o fotógrafo de continuar fotografando o momento de alegria dos croatas.

"Comecei a disparar a câmera enquanto caía. Quando caí e fiquei debaixo da montanha de jogadores continuei apertando a câmera, registrando seus rostos, a euforia, a emoção do festejo", recorda.

Cortez, salvadorenho de 53 anos, se tornou em menos de um minuto o protagonista involuntário de um evento global.

Em três décadas de carreira, Cortez registrou o conflito interno em seu país, assim como guerras, desastres naturais, golpes de Estado e crises humanitárias.

O fotógrafo, que registrou imagens de um ataque surpresa durante um trajeto com o exército americano no Iraque e a explosão de um carro-bomba em Lima em 1992, confirma seu compromisso de conseguir a imagem em momentos críticos.

Entre o temor por sua vida em zonas de conflito e virar uma celebridade, Cortez ainda tenta processar o que aconteceu na quarta-feira.
 

- "Um grande momento" - 


Pergunta: Qual foi a sensação quando se viu debaixo dos jogadores croatas?

Resposta: "Foi totalmente inesperado. Tudo aconteceu tão rápido, foi tudo tão inesperado, surpreendente, e ao mesmo tempo emotivo que na realidade não tive tempo de pensar mais que em disparar a câmera e tentar registrar os rostos de felicidade e deles festejando".

P: Como os jogadores croatas se comportaram naquele momento?

R: "Quando perceberam a situação, os jogadores foram muito amáveis comigo, perguntando se estava bem. Um deles, dentro de toda confusão, pegou os óculos, colocou em mim e disse: Ah, são seus óculos. E depois aconteceu o momento em que (o zagueiro Domagoj) Vida me dá a mão, me abraça e dá um beijo".

"Foi um bom momento na realidade, isto de compartilhar a alegria deles com a classificação à final e possivelmente a Copa do Mundo foi um grande momento".

P: Ao final da partida você partiu imediatamente para o aeroporto. Quando percebeu o fenômeno que virou?

R: "Dirigi por uma hora e meia, demorei a chegar ao aeroporto. Aí comecei a receber ligações e o telefone não parou de tocar. Quando resolvi a questão do voo, dei uma olhada na tela do telefone e havia centenas de ligações, uma pessoa havia ligado 50 vezes, outra 25, outras 10, 15, insistentemente. Bem, aí comecei a perceber que o fenômeno estava nas redes".

P: Qual a semelhança de uma situação como esta com as coberturas arriscadas como as guerras? 

R: "Em comum, a adrenalina que sobe a mil, dez mil, é muito similar digamos. Mas quando sua vida está em risco a situação muda porque é uma adrenalina distinta".

"O que aconteceu na partida foi diferente porque, apesar da avalanche de jogadores, nunca senti que isto colocava minha vida em risco, no máximo ficaria com alguns hematomas. E acredito que o sorriso vem em parte por isto. É o que faz a diferença entre uma situação e o que aconteceu na partida".

P: E para a final da Copa, vai torcer pela Croácia?

R: "Me sinto próximo, me sinto identificado com eles. Vou apoiar a Croácia, sem dúvida (sorri). Vamos!".